Imagine poder "ver" cada metro dos seus campos regularmente, sem sequer sair de casa. É precisamente o que a monitorização por satélite das culturas permite. Os satélites que orbitam a Terra estão equipados com sensores que medem a luz refletida pelas plantas e pelo solo em diferentes comprimentos de onda, alguns dos quais visíveis e outros invisíveis ao olho humano. Através da análise desses dados, é possível tirar conclusões sobre:
Resumindo, os satélites funcionam como um “sistema de alerta precoce” assinalando problemas dias ou até semanas antes de o próprio agricultor se aperceber deles no terreno. Esta vantagem pode ser decisiva para uma intervenção rápida, evitando assim grandes perdas na colheita. Os agricultores recebem mapas e alertas fáceis de compreender que os ajudam a tomar decisões informadas:
Os satélites recolhem vários tipos de dados para criar uma imagem completa do estado do campo:
Os satélites costumam combinar estas bandas em “índices” fáceis de interpretar. Os dois mais comuns são: NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada) e NDWI (Índice de Água por Diferença Normalizada). Estes índices transformam os dados brutos dos satélites em mapas simples e codificados por cores — verde para saudável, amarelo para alerta e vermelho para situação crítica — que qualquer agricultor pode interpretar rapidamente.
É possível aceder online aos dados brutos recolhidos pelos satélites. Por exemplo, a Agência Espacial Europeia (ESA) permite o acesso aos dados recolhidos pelos satélites Sentinel-1 e Sentinel-2 do programa Copernicus (https://browser.dataspace.copernicus.eu/) – pode selecionar o satélite desejado através do menu suspenso.
Dica para os pequenos agricultores: Não necessita de descarregar os dados brutos. As plataformas que utilizam tecnologia de IA fazem isso por si e apresentam as informações de uma forma mais fácil de usar e compreender.
A transformação das medições dos satélites em mapas úteis para o terreno envolve várias etapas, nas quais a inteligência artificial (IA) se revela uma ferramenta essencial. De facto, os modelos de IA corrigem os efeitos atmosféricos (névoa e vapor de água) e alinham as imagens, de modo a garantir que cada pixel corresponde exatamente ao mesmo ponto no terreno ao longo do tempo. Com a ajuda da aprendizagem automática e do reconhecimento de imagens, é possível rastrear os limites das parcelas, mesmo as pequenas e irregulares. A IA também consegue distinguir diferentes culturas (como o trigo, o milho ou a soja) e acompanhar as respetivas fases de desenvolvimento, permitindo aos agricultores saber exatamente em que fase se encontra cada parte do campo: sementeira, germinação, floração, entre outras. Além disso, ao ser treinada com anos de dados históricos, a IA consegue detetar desvios do crescimento normal e prever a colheita final com uma precisão surpreendente.
A monitorização por satélite já não é uma tecnologia futurista. Está aqui, gratuita e acessível, graças a programas de dados abertos e plataformas digitais inteligentes (embora também existam opções premium disponíveis). Ao utilizar o poder do NDVI, do NDWI e da reflexão de radar, até os pequenos agricultores podem detetar problemas mais cedo, orientar os seus esforços com maior precisão e, por fim, colher culturas mais saudáveis e abundantes. O céu sobre os seus campos contém uma enorme quantidade de informações; está na hora de as pôr em prática.
Escrito por Rocco Limongelli, especialista em IA e Robótica.