Guia do agricultor para a robótica: o que os agricultores necessitam de saber sobre robots agrícolas na UE
Insights and Forecasts

Guia do agricultor para a robótica: o que os agricultores necessitam de saber sobre robots agrícolas na UE

Tempo de leitura (minutos):2
Se é agricultor e está a considerar investir em robots agrícolas — seja um trator autónomo, uma ceifeira-debulhadora ou sistemas de ordenha automáticos — provavelmente estará focado na produtividade, nos custos e na viabilidade desta tecnologia na sua exploração. Mas há outro elemento essencial do quebra-cabeças: o quadro jurídico e regulamentar que se aplica a estas máquinas. Não se preocupe: não é preciso decifrar textos legais complexos. Basta compreender as regras básicas para tomar decisões de compra mais inteligentes, proteger os seus interesses e evitar problemas no futuro.
Por que os agricultores devem preocupar-se com regulamentações?
A incerteza jurídica é uma das principais razões pelas quais muitos agricultores hesitam em adotar novas tecnologias. Estudos mostram que há grande interesse pela robótica na agricultura, mas muitos permanecem cautelosos até compreenderem melhor o panorama jurídico. A boa notícia é que a União Europeia está a trabalhar ativamente na criação de regulamentações claras, para apoiar o uso seguro e eficaz de robots agrícolas. Entender essas regras pode, na prática, ser uma vantagem para si.
O básico: normas de segurança e marcação CE
Ao comprar máquinas agrícolas na UE, verá nelas uma “marcação CE”. Não se trata apenas de um autocolante – trata-se, na prática, do passaporte do produto para o mercado europeu. A marcação indica que o fabricante certificou que a máquina cumpre os requisitos de segurança da UE. Para si, enquanto agricultor, significa que a máquina foi fabricada tendo em conta a segurança, cumpre diretivas europeias específicas, como a diretiva relativa às máquinas e o regulamento sobre máquinas agrícolas e florestais, e oferece uma garantia básica quanto à segurança do produto. Embora os fabricantes não sejam legalmente obrigados a seguir normas técnicas específicas, como as normas ISO, muitos optam por fazê-lo, pois isso demonstra o seu compromisso com a qualidade e a segurança (e, tecnicamente, confere-lhes uma presunção de conformidade com a legislação em vigor). Pode considerar as normas como as melhores práticas do setor — diretrizes elaboradas em consenso por especialistas.
Quem é responsável quando algo corre mal?
É aqui que entra a responsabilidade pelo produto, que é fundamental para proteger o agricultor. De acordo com a legislação da UE, o fabricante pode ser responsabilizado se um robot agrícola estiver com defeito e causar danos — seja a si, aos seus funcionários, às suas culturas ou mesmo à propriedade de terceiros — mesmo que o fabricante não tenha sido negligente. Na prática, isto representa uma forte proteção para os agricultores. A lei distingue três tipos de defeitos. Em primeiro lugar, estão os defeitos de fabrico, que ocorrem quando algo corre mal durante o processo de produção e o produto final não corresponde ao que deveria ter sido produzido. Em segundo lugar, existem os defeitos de conceção, quando o próprio design do produto é inseguro. Por fim, estão os defeitos de informação, que ocorrem quando os avisos ou instruções são insuficientes. O que torna isto especialmente valioso para os agricultores é que não é necessário provar a negligência do fabricante — basta demonstrar que o produto apresentava defeitos e causou danos.
Quem é o proprietário dos dados da sua exploração agrícola?
Esta é uma questão que preocupa muitos agricultores modernos: quando o seu trator robótico recolhe dados sobre a composição do solo, os níveis de produção, as posições GPS ou o trabalho nos campos — a quem pertencem realmente esses dados? Estas informações são valiosas. Podem ajudar a prever colheitas, otimizar práticas de cultivo, tomar decisões financeiras e melhorar o desempenho dos robots. O problema é que o direito de propriedade tradicional não foi concebido para ativos digitais como os dados. Não se pode “possuir” dados da mesma forma que se possui um trator. Por isso, a UE introduziu o Data Act (Lei dos Dados) — uma legislação que lhe dá mais controlo sobre os dados gerados pelos seus dispositivos. Esta lei garante o seu direito de aceder aos dados produzidos pelos equipamentos que utiliza e de os partilhar com terceiros. Todos os acordos relativos à utilização de dados devem ser transparentes e justos. É importante salientar: as empresas não podem usar os dados da sua exploração para desenvolver produtos concorrentes que possam prejudicar a sua atividade. Na prática, isto significa que, no futuro, poderá recorrer a qualquer oficina para reparar as suas máquinas e não apenas ao fornecedor original (que poderá ser mais dispendioso). Isto porque tem agora acesso a informações que antes eram exclusivas do fabricante.
Conclusão

O enquadramento legal da robótica agrícola está a evoluir rapidamente, o que é realmente positivo. Regras claras criam confiança nos investimentos, oferecem maior proteção em caso de problemas, aumentam o controlo sobre os dados da sua exploração e, ao mesmo tempo, promovem a inovação no setor agrícola. Naturalmente, existem aspetos legais a ter em conta na utilização de robots agrícolas. Mas, em vez de os ver como obstáculos, deve considerá-los como uma rede de segurança — um quadro que protege e, simultaneamente, permite a inovação. O futuro da agricultura será cada vez mais automatizado, e a UE está a trabalhar para garantir que esse futuro seja seguro, justo e vantajoso para os agricultores. A utilização de robots agrícolas assinala uma mudança significativa na agricultura moderna. Como acontece com qualquer grande transformação, surgem questões e incertezas — mas com o conhecimento adequado sobre os fundamentos legais, poderá investir com confiança. Afinal, os quadros regulamentares existem para proteger os seus interesses e, ao mesmo tempo, promover a inovação, a produtividade e a sustentabilidade.

 

Agradecimentos: este artigo baseia-se na investigação de Rocco Limongelli (autor) e Andrea Bertolini, realizada no âmbito do capítulo “Regulatory frameworks and standards for agricultural robotics in the European Union” (Quadros regulamentares e normas para a robótica agrícola na União Europeia) do livro Advances in agri-food robotics (Avanços na robótica agroalimentar).

Bertolini, A., & Limongelli, R. (2024). Regulatory frameworks and standards for agricultural robotics in the European Union (Quadros regulamentares e normas para a robótica agrícola na União Europeia). Burleigh Dodds Science Publishing.

Share
Seja o primeiro a saber as novidades do seu setor!
Subscreva a nossa newsletter e mantenha-se atualizado/a com o Universo BKT, incluindo notícias exclusivas, os produtos mais recentes e as histórias BKT.
Encontre o seu pneu